Basta ouvirmos uma palavra isolada e o cérebro faz uma associação praticamente imediata a uma música. Por vezes, essa harmonia nem está no top das nossas preferências, mas é provável que fique em ‘loop’ o dia todo.
Killingly e Lacherez, os autores do artigo ‘A música que nunca termina: o efeito da exposição repetida no desenvolvimento de um verme de ouvido’, descrevem esta experiência como “uma melodia cativante que se repete persistentemente na mente” e que se trata de “fenómeno cognitivo omnipresente, mas misterioso”.
A esse fenómeno dá-se o nome de ‘earworm’ que, traduzido literalmente, pode ter o nome de uma patologia de “vermes do ouvido”. E para quem não gosta da música que tem na cabeça repetidamente, esta definição pode não ser assim tão descabida e a sensação pode ser realmente semelhante a ter algum “bicho no ouvido”.
Emery Schubert, em declarações ao ‘Science Alert’ explica que, cientificamente, este fenómeno associado a fragmentos de músicas ou jingles é conhecido por “imagens musicais involuntárias”.
Para uma cumprir os requisitos e integrar esta lista de músicas que cria “vermes” nos ouvidos, a especialista aponta características comuns, como sinais de repetição, nomeadamente através de refrões curtos e repetitivos, como é o caso da música ‘Baby shark’ que, provavelmente, já está a cantar.
De acordo com o estudo ‘Memória humana’ de Atkinson e Shiffrin publicado em 1968, este tipo de músicas, pouco complexas e repetitivas, fica na nossa cabeça graças a uma ‘gaveta’ do nosso cérebro que é responsável pelo “armazenamento a curto prazo”.
Para Emery Schubert, outro fator que dita a repetição constante das músicas na nossa cabeça pode ser a “repetição e exposição em massa” dessa sonoridade, visto que se uma música começa a passar em todas as plataformas digitais, rádios e televisões, inevitavelmente vamos ouvi-la e criar uma certa “familiaridade”, acrescenta.
Hábitos e condições ambientais também podem desencadear lembranças. A par disso, surgem novamente as músicas. Quando alguém se habitua a ouvir a mesma sequência de músicas ou o mesmo tipo de música em determinadas situações, mesmo que num dia altere esse comportamento, pode acabar por se lembrar, ainda que involuntariamente.
Como parar de pensar nessa música?
Ainda há poucas evidências científicas, mas Emery Schubert menciona uma solução que, apesar de embaraçosa, pode ser “eficaz, mas nem sempre ideal”.
“Para remover um ‘verme’ indesejado é preciso desativar o cérebro do modo padrão. Um método é cantar a música em voz alta para outras pessoas. A envolvência social vai impedir esse mecanismo de se voltar a ativar, mas às custas de algum constrangimento”, conclui a especialista.
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