Durante décadas, a ideia de crescer esteve associada a ganhar independência cedo: arranjar o primeiro emprego, comprar uma casa, gerir a própria vida. Hoje, para muitos jovens, isso parece mais um sonho distante do que um plano real.
Depois de anos de estudo, dedicação e investimento pessoal e familiar, o recém-licenciado sai da universidade cheio de vontade de contribuir. No entanto, mal começa a procurar emprego, depara-se com um obstáculo que, ironicamente, não estava nos manuais: a exigência de 3 a 5 anos de experiência para uma vaga.
Esta barreira inicial cria um ciclo vicioso. Sem experiência, não há emprego, sem emprego, não há rendimentos para sair de casa e, sem autonomia, a maturidade financeira e social atrasa-se.
É através da prática, da mentoria e da oportunidade que um jovem se torna capaz de enfrentar o mercado e crescer profissionalmente. Negar-lhe esta aprendizagem é hipotecar o futuro profissional de toda uma geração.
O problema não está na ambição, que, na verdade, é elevada, mas na falta de espaço para começar a construir um percurso. Os jovens têm a sua energia no auge, ideias frescas, facilidade em aprender, competências digitais e capacidade de se desenrascar. A sociedade perde quando não acredita neles: perde inovação, dinamismo e possibilidade de se adaptar rapidamente às mudanças.
Para mudar este cenário, é preciso mais do que discursos motivacionais. As empresas devem apostar em programas de integração, formação e estágios remunerados com dignidade. O Estado tem de criar políticas que incentivem a contratação dos mais novos. E a sociedade, no geral, precisa de abandonar a ideia de que a juventude atual se acomoda ou não quer trabalhar.
Os jovens não ficam em casa porque querem. Ficam porque, entre a porta da saída e a entrada no mercado de trabalho, há um muro tão alto que poucos conseguem escalar sem ajuda.
Enquanto este muro não for derrubado, continuaremos a culpar a geração errada.
Lícia Alves – Comunidade Lusa
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