Portugal arde. Milhares de hectares são engolidos pelas chamas, centenas de famílias perdem casas, animais e memórias e, os bombeiros, enfrentam dias sem descanso numa luta incessante contra o fogo. No meio deste inferno, o que mais custa apagar é a ausência política.
O primeiro-ministro Luís Montenegro e o presidente Marcelo Rebelo de Sousa foram criticados por só interromperem as suas férias após a pressão pública. Há quem relativize, dizendo que a presença deles no terreno não apaga fogos. É verdade. No entanto, o país não pede que sejam bombeiros, pede que sejam comandantes. A liderança, em momentos de crise, não se mede por mangueiras nem por litros de água despejados, mede-se pela capacidade de estar, de mostrar empatia e de assumir a responsabilidade por uma nação ferida.
O que os portugueses precisam é de voz, de alguém que se coloque ao lado deles. Não basta enviar ministros ou emitir comunicados. Os cidadãos querem ver que os seus líderes sentem a dor coletiva. Quando a floresta arde, não está apenas em causa o património natural, mas a coesão social e a confiança no futuro. Essa confiança, uma vez perdida em momentos de tragédia, dificilmente se reconstrói com discursos tardios.
Sempre que os chefes do governo mantêm a normalidade enquanto a sociedade vive o caos, a mensagem que transmitem é devastadora: a de que estes acontecimentos são mais um ritual de verão e não uma tragédia nacional.
Portugal tem um problema estrutural de ordenamento florestal e de prevenção, isso todos sabemos. Todavia, também enfrenta um problema de credibilidade e, a responsabilidade do momento, recai sobre quem governa hoje.
Mais do que hectares queimados, o que este verão nos deixará é uma ferida política: a sensação de que, quando o país arde, quem devia liderar escolhe ficar à sombra.
Lícia Alves – Comunidade Lusa
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