No dia 25 de Abril de 1974, Portugal saiu da escuridão. Com cravos nas espingardas e coragem no coração, os militares do Movimento das Forças Armadas puseram fim ao Estado Novo — um regime que durante quase cinco décadas sufocou a liberdade dos portugueses com censura, perseguições, tortura e medo. O que muitos esquecem, porém, é que esta liberdade não nos foi oferecida: foi conquistada.
Vivemos, hoje, numa democracia. Temos o direito de votar, de falar livremente, de criticar o governo, de organizar manifestações, de aceder à informação. Mas nada disto está garantido para sempre. A história, não só de Portugal como do mundo, mostra-nos que a liberdade é frágil. Países democráticos podem regredir. Direitos conquistados podem ser postos em causa. Basta olhar para o que se passa em algumas democracias europeias, onde extremismos estão a crescer e liberdades civis estão a ser lentamente corroídas, muitas vezes com o consentimento ou indiferença da maioria.
Em 2022, quase metade dos eleitores não votaram, como se votar fosse um favor ao sistema e não um direito conquistado com sacrifício. A liberdade implica participação ativa.
Não podemos cair no erro de pensar que, por vivermos em liberdade, ela está assegurada. Cada geração tem de lutar por ela, à sua maneira. Não com armas, como em 1974, mas com espírito crítico, com resistência à desinformação, com coragem para enfrentar discursos de ódio, exclusão e intolerância.
Liberdade de expressão não é licença para ofender. Liberdade de imprensa não é carta branca para manipular. Liberdade religiosa não é escudo para discriminar. A liberdade tem limites, e esses limites são o respeito pelos outros. Quando confundimos liberdade com egoísmo, corremos o risco de a destruir por dentro.
Há quem diga, com um certo orgulho, que “no tempo de Salazar é que era”. Que “havia respeito”. Que “a criminalidade era menor”. Estas narrativas relativizam a repressão brutal que existia: a censura, a tortura, a pobreza extrema em vastas zonas do país, a guerra colonial que ceifou milhares de vidas.
O 25 de Abril não é apenas um feriado — é um compromisso. Um compromisso com a memória, com a justiça, com a participação, com a liberdade. Que nunca seja preciso voltar a lutar com armas para a recuperar.
Porque sim, a liberdade tem um custo. E pagá-lo — todos os dias — é o preço da democracia.
Para ouvir: Liberdade, de Sérgio Godinho
Mariana Neto- Licenciada em Comunicação Social
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