A legitimação de Cavaco

marcelo versus costa

Cavaco Silva ensaiou com sucesso, no encontro de autarcas do PSD, a legitimação da liderança de Luís Montenegro. Num discurso violento de 40 minutos, elaborou sobre os últimos casos que levaram a uma crise institucional entre os palácios de Belém e S. Bento e atacou uma governação que, segundo disse, deixará o país pior do que quando o PS chegou ao poder em 2015.

O ex-presidente da República, ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro com duas maiorias absolutas acusou os socialistas de colocarem o país numa “trajetória de empobrecimento e profunda degradação da vida política nacional”, de desnorte, de falta de rumo e de falta de visão estratégica.

Foi mais longe, tecendo não apenas fortes críticas a António Costa, mas também respondendo a Marcelo Rebelo de Sousa: “O PSD tem vindo a apresentar alternativas e a defender causas que permitem inverter o declínio político e social em que o país se encontra”, disse, criticando com violência a posição do atual presidente da República sobre a capacidade de governação dos sociais-democratas. “É totalmente falsa a afirmação de que o PSD não tem apresentado alternativas ao poder socialista”.

Cavaco Silva mobilizou as bases, uniu os barões, definiu a estratégia e o posicionamento do PSD como partido de Oposição, demolindo o PS. E António Costa mais não tem feito do que mostrar um Governo em autogestão, envolvido em cenas novelescas e aparentando alheamento do país. Mas……

Mas, apesar de elogiado, o posicionamento que Cavaco Silva defende para o PSD está datado no final dos anos 80 e década de 90, quando PS e PSD, partidos moderados do espaço democrático, reuniam o consenso dos eleitores e votações expressivas. Hoje a realidade é outra, à Esquerda e à Direita.

O PSD é inequivocamente um partido de Oposição, ainda o maior, mas o sistema mudou, há competição no espaço político da Direita, os portugueses têm ambições e necessidades diferentes, o que obriga os sociais-democratas a perceberem a sociedade de um modo que não estão a conseguir.

Resta uma provocação. Luís Montenegro foi posicionado por Cavaco Silva não pelo que fez como líder, mas pelo estado anémico do país. Não há memória de algum líder ter necessitado tanto de apoio, mas há memória de que Pedro Passos Coelho não precisou.

*Diretor-Geral Editorial

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